segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Hoje a minha dor ganhou um prefixo: (educa)dor.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

(...) e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor. (Drummond)

domingo, 24 de outubro de 2010

Pronta para o amor


Eu não me perdoaria se não deixasse registrado as emoções de uma noite de domingo, ao escutar Cazuza enquanto voltava pra casa. É como se tivessem acordado as lembranças de uma meninice grávida de sonhos e sentimentos. Agarrei-me num choro de vida tal como um bebê recém-nascido, pois é nele que encontro a figura para traduzir o meu estado de espírito nos últimos meses. Essa vida que vos escreve tem sede de colo do mundo. Cazuza mexe comigo o equivalente a um bloco de carnaval do tamanho da lua. É nele e com ele que me perco ao mesmo tempo que me encontro, converso com a dor e busco incansavelmente a minha verdade através de uma percepção de mundo que elege o amor para governar o pensamento. De fato, "o poeta está vivo com seus moinhos de vento a impulsionar a grande roda da história." Fez e faz parte do meu show.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Descobri que tenho medo da palavra Invasão.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Só pra deixar registrado o quanto eu fui feliz nessa noite de segunda-feira comendo abacaxi e escutando Sunday Morning do The Velvet Underground. Descobri que há sol também nas noites - depois de ler um blog cheio de vida que me despertou aqueles feelings existencias maravilhosos. Peço perdão às minhas queridas anotações de sociologia da comunicação, mas sou obrigada a deixá-las de repouso por alguns instantes para me dedicar a esse orgasmo espiritual que me consome lindamente. Só pra deixar registrado, mais uma vez, o quanto fui feliz nessa noite de segunda-feira: eu + duas fatias de abacaxi + the velvet + meus sentimentos + nada.

Vontade de continuar a sentir esse encatamento durante várias noites da minha vida: http://www.youtube.com/watch?v=zZXZ2wWmARY&feature=related
E que hoje seja apenas a primeira de muitas noites ensolaradas. Meu coração agradeceria.

domingo, 26 de setembro de 2010

sábado, 11 de setembro de 2010

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Viajo com a luz do sol invadindo sutilmente cada poro íntimo da minha alma. A expectativa pela ampliação de novas sensações é linda e doce, deixando-me leve como nunca. Sinto meu coração lançado no mundo. Matisyahu toca no disk man. Warrior pela terceira vez consecutiva, para ser mais precisa. O amor toma conta dos meus ouvidos. Absorvo a claridade parida suavemente, sem choro. Mais uma hora de vôo para os meus olhos fatigados.


- Sequência literária escrita durante o percurso Recife/São Paulo. A luz dava conta dos meus pensamentos, embora a temperatura fosse de 10º celsius no momento da aterrissagem.

sábado, 5 de junho de 2010

“Isso tudo nunca foi pra mim, nunca funcionou, é sempre eu que caio, de amores, ilusões, dores e no final de tudo eu fico aqui, esperando esse trem, pra me levar para a proxima estação, onde eu possa finalmente criar uma nova ficção na minha cabeça, uma nova atração para os meus olhos, uma nova paixão pro coração, e quem sabe, um final pra este roteiro.”



- Caio Fernando Abreu.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

"Parecia-lhe que já fora tão experimentada que agora lhe deveria chegar, dentro da lógica humana romântica dos humanos, a hora de receber a paz."

C.L

quinta-feira, 20 de maio de 2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sinto medo nessa manhã congestionada de chuva que canta alto na minha janela.
O poema de Neruda, minutos antes da meia-noite de ontem, caiu como uma luva nessa revolução espiritual que tem me devorado diariamente:
"Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando." 

Desconheço quem possa manifestar tamanha atenção. Quem sabe as minhas fantasias deem conta de preencher essa necessidade.

Jean Baudrillard também me acorda hoje: "examino a vida que acontece no momento, como um fotógrafo."

Como explicar os sentimentos que estão por trás de todo esse meu discurso? Será que sou capaz de explicá-los a mim mesma? Olhando para mim nessa manhã cinzenta, proponho mais um desenho reflexivo a respeito das categorias impensáveis.
O choro depois do banho, logo cedo, foi responsável por fertilizar minhas idéias. Ele mesmo, o choro de amor. Que limpa o coração dos meus olhos e sustenta o barco que me faz humana.
Sejamos humanos, homens!

Baudrillard apertaria minha mão, creio eu:

"ÉPOCA - A disseminação de signos a despeito dos objetos pode conduzir a civilização à renúncia do saber?
Baudrillard - Alguma coisa se perdeu no meio da história humana recente. O relativismo dos signos resultou em uma espécie de catástrofe simbólica. Amargamos hoje a morte da crítica e das categorias racionais. O pior é que não estamos preparados para enfrentar a nova situação. É necessário construir um pensamento que se organize por deslocamentos, um anti-sistema paradoxal e radicalmente reflexivo que dê conta do mundo sem preconceitos e sem nostalgia da verdade. A questão agora é como podemos ser humanos perante a ascensão incontrolável da tecnologia."

domingo, 9 de maio de 2010

Ouvindo a doçura de Mice Parade em Nights Wave pela segunda vez consecutiva, depois de Bon Iver me embalar com From Emma e de absorver todo o amor de She e Him em Sentimental Heart. É assim que abasteço a minha alma antes de me deitar pra dormir nesse domingo inquietante. São exatamente 02:13. O ciclo do meu pensamento parece querer descansar por um breve momento. Sinto que estou perto de transbordar, mais uma vez. Overdose de sentimento, boa noite pra você.

Bigger than my body!

O ritual de transbordar interiormente é gritante e ensurdecedor como nunca. Sou capaz de ouvir o eco em qualquer esquina do meu coração.

sábado, 17 de abril de 2010

Não sei quantas almas tenho (Fernando Pessoa)

"Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu."
Enfrento, sem nenhuma outra ajuda, além da própria cabeça e do coração, o vazio - tão jovem - deixado pelo poeta que me levou nos braços, por tantas noites, ao encontro do verso que esperava para adormecer comigo. Ensinou-me o poeta, que eu poderia recriar o universo segundo uma nova dimensão, na qual seria necessário pintar-me de ousadia para, só assim, dar vida aos meus sonhos e convicções e fazer da sensibilidade o ponto máximo do meu projeto de vida.
O homem das cores sábias deixou de ser palpável. É energia que, derramada sobre mim, transborda.
Eu bebi as cores do meu pai e trouxe comigo. Elas, que compõem o cenário da minha alma.
O cenário das mais fortes emoções, que gritam detrás das cortinas vermelhas que se abrem a cada espetáculo de sentimentos. Eles esperam ser aplaudidos de pé.
Quero ver uma plateia de bichos homens, entre eles, o mais humano, que irá explorar a densa selva de cores. O que baterá a última palma, ao fim do espetáculo, e permanecerá no mesmo local, inconformado com o fechar das cortinas, esperando a hora da revelação - quando os sentimentos sairão daquele palco nus e crus, cansados, sem maquiagem, completamente desbotados, e serão convidados a passar a noite sob os cuidados da lua. Quero que bichos se cheguem com mansidão ao bicho manso, doce e meramente humano que eu tanto procuro ser. Quero, como uma selvagem em busca de abrigo no meio da tempestade, o único dia em que me encontrarão. Tão livre, e sozinha na natureza. Na mais pura e antiga condição humana, nua da cabeça aos pés.
O dia em que ousarão vestir-me, alma impregnada de choro, regida de fogo e arte.

domingo, 21 de março de 2010

Tenho vontade de jogar todas as pessoas do mundo num liquidificador para que não haja indiferença entre elas, e os olhares reconheçam cada alma em sua mais profunda vastidão.

quinta-feira, 11 de março de 2010



A menina caminha. Ao invés de parar, ela dança pra descansar. A tal menina teme tudo que tire sua paz interior. A menina tem medo. Ela chora muitas vezes sem saber o porquê, chora onde estiver. Chora todinha por dentro. Chora de encantamento por qualquer coisa que lhe transmita um significado. A menina carrega uma carga de sensibilidade tão imensa, que até ela própria se espanta como tudo isso pode fluir dentro do seu coração de carne.

A menina sangra. Sangra porque carrega o vermelho da arte. Ama o desconhecido, ama alguma coisa grandiosa que ela ainda não sabe o que é. Alguma coisa que a espera em alguma dessas paradas, durante a sua caminhada. A menina sente. Sente que algo espera por ela. Algo que não pode ser tocado, ouvido, tampouco descrito.

Olha para sua sombra enquanto caminha. Olha e vê todos aqueles que estiveram junto dela, todos aqueles refletidos na mesma areia, no mesmo mundo. Todos aqueles homens. Todos eles que, um dia, já foram responsáveis por tirar a paz do seu coração. Mas responsáveis também por lhe fazerem feliz em algum momento de sua caminhada. Esta tão vulnerável muitas vezes, porque a menina encontra o pai todos os dias quando olha para dentro de si. O pai e "sua alegria escandalosa, vitoriosa por não ter vergonha de aprender como se goza." A menina quer toda a pouca castidade do pai, "toda a sua louca liberdade, toda essa vontade de passar dos seus limites e ir além." Quantas saudades ela sente desse pássaro!
Essa menina aprendeu com ele, até os 14 anos, que um homem realizado tem que ter escrito um livro, plantado uma árvore e constituído uma família. O pai fez tudo isso. E a alma da menina sorri.

A menina quer criar uma passarela porque tem sonhos e quer que as pessoas os percebam. Essa menina tem o sonho de viver no circo. É só um jeito de viver nesse mundo de mágicas e mudar o espetáculo da vida. Ela quer sentir "a evolução da liberdade até o dia clarear." Quer dançar "na corda bamba de sombrinha mesmo sabendo que em cada passo dessa linha pode se machucar." Mas a menina quer tentar. Quer o equilíbrio da bailarina que fora até os 12 anos de idade. Quer se apaixonar por um palhaço malabarista. É um dos maiores sonhos da menina a vida no picadeiro. 

A menina quer e precisa dos pés da mãe para abrir todos os seus caminhos. A mãe que começa com Maria, nome tão admirado pela menina. Ela o sente forte tal como a mãe. E para essa mãe, em seu último aniversário, a menina  escreveu: Voa, passarinha, pois a vida veio ver-te. Mas me leva sempre contigo, em qualquer instante de pouso.
A menina também admira os artistas. Um de seus sonhos é casar-se com um deles. Ela gosta que lhe pintem a alma, fotografem sua essência, escrevam para o seu coração. A menina quer ser descoberta. Cansou-se das conquistas corriqueiras, criou pavor pela superficialidade alheia. Hoje, anda com um escudo, mas não deixa de lado a arte de ser livre.

A mulher quer morar com o seu marido no Poço da Panela, andar de bicicleta todos os dias no fim da tarde e continuar regando a sua primavera interior para o resto da vida. Ela ignora o fim do mundo em 2012 ou discussões do gênero, pois quer continuar sonhando. Acredita que o mundo sempre existirá enquanto o homem não esquecer ou desistir dos seus sonhos.
Enquanto a menina passa a tarde no balanço do parque com as amigas, a mulher prefere entrar pela madrugada embriagando-se de felicidade no boteco mais barato do Recife, deixando a marca do seu batom vermelho nos copos de vidro do recinto, absorvendo a energia do ambiente que lhe deixa tão à flor de si mesma. Ela presta atenção aos personagens da noite, tem um verdadeiro fascínio por eles. Os bêbados, poetas, ladrões, mendigos, prostitutas. Estuda mentalmente a alma das ruas durante a madrugada. Ela quer conhecer sempre.

A menina, a mulher querem experimentar. Querem continuar tendo a sensação de que falta algo em suas vidas que não sabem o que é e, talvez, nem queiram descobrir. Eu acho que elas preferem que a tal coisa mantenha-se oculta, para, desse jeito, poderem dançar em todos os salões, visitar o abraço de todos os mundos. Mas querem se proteger, também. Como essa menina mulher se cansa de querer ser. Às vezes ela quer só o quarto dela, porque é o mundo que só ela compreende - o único lugar que tem o poder de transformar ao seu jeito. Ela põe suas músicas prediletas, acende um incenso ou o réchaud amarelo e procura se comunicar com os astros, deitada no tapete verde. Pinta isso, cola aquilo, mexe no painel de fotos, enche as paredes de quadros e figuras que carregam uma história, um espírito singular. Abre uma cerveja de vez em quando. Ela tem uma máquina de escrever em cima do birô - é apaixonada por coisas antigas. A máquina de escrever é da sua mãe, guardada há mais de 25 anos...

A menina e a mulher caminham juntas, lado a lado, de mãos dadas - as duas. Às vezes, elas correm, ansiosas, em busca do que está além do material. E até tropeçam. Mas a menina, por ser mais nova, levanta-se primeiro e ajuda a mulher. Elas seguem dessa forma, em direção as galáxias cintilantes que as atraem.
Elas querem encontrar a Pasárgada de cada uma.

quarta-feira, 3 de março de 2010

O (re)encontro da energia com a saudade

 
Os pincéis sujos da última noite ainda desbotam, mergulhados no mar de cores claras. As cores usadas no contorno dos dois corpos, que sentados, assistem, lado a lado, a mais um encontro encantado. Já que ninguém cometeu a loucura de assassinar a distância (ainda), eu e ele abrimos os olhos da alma para a magia que enche a nossa atmosfera de bolhas de sabão que bailam no ar, transformando nosso momento num cenário de sonhos. Afinal, o nosso mundo tem o tamanho dos nossos sonhos. Dessa vez, pintamos o reencontro da energia com a saudade, amanhecemos junto com o dia, rompemos a superficialidade, abraçamos a imensidão de nossos desejos, olhamos nos olhos buscando a confirmação dessa corrente particular. Absorvido. "Eu não quero gastar esse amor, eu quero lembrar dele assim, pra sempre."

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Dois


Sossegados
os corpos que repousam lado a lado, após a invasão dilacerada da alma.
O gozo penetra pelos poros mais íntimos, após percorrer longas distâncias em busca de festa para o seu sentido.
São duas crianças,
os corpos. Duas crianças saciadas, adormecidas no berço.
Dois bichos,
fartos. Expostos na vulnerabilidade da carne animal.
Dois poemas,
metrificados. Após serem devorados pela rima carnal.
Dois passarinhos descansados do vôo.
Duas pombas, dois corpos da paz.
Duas almas consumidas. Abertas como flores que se despetalam quando se apetecem.
Nuas e dominadas. Sem máscara ou qualquer tipo de disfarce.
Dois corpos. Plantados a uma distância que permite o abraço dos galhos. Duas árvores.
Dois olhos que se entregam. E se consolam.
Ou não, se fugazes.

sábado, 16 de janeiro de 2010

A menina e o pássaro encantado

"Era uma vez uma menina que amava um pássaro encantado que sempre a visitava e lhe contava estórias, o pássaro a fazia imensamente feliz. Mas sempre chegava um momento quando o pássaro dizia: "Tenho de ir". A menina chorava porque amava o pássaro e não queria que ele partisse. "Menina", disse-lhe o pássaro, "aprenda o que vou lhe ensinar: eu só sou encantado por causa da ausência. É na ausência que a saudade vive. E a saudade é um perfume que torna encantados a todos os que o sentem. Quem tem saudades está amando. Tenho de partir para que a saudade exista e para que eu continue a amá-la, e você continue a me amar..." E partia. A menina, sofrendo a dor da saudade, maquinou um plano: quando o pássaro voltou e lhe contou estórias e foi dormir, ela o prendeu numa gaiola de prata dizendo: "Agora ele será meu para sempre". Mas não foi isso que aconteceu. O pássaro, sem poder voar, perdeu as cores, perdeu o brilho, perdeu a alegria, não mais tinha estórias para contar. E o amor acabou. Levou tempo para que a menina percebesse que ela não amava aquele pássaro engaiolado. O pássaro que ela amava era o pássaro que voava livre e voltava quando queria. E ela soltou o pássaro que voou para longe.” (Rubem Alves)

E voa até hoje.. percorrendo a essência da menina.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2010


"Se você quiser eu danço com você no pó da estrada
Pó, poeira, ventania
Se você soltar o pé na estrada, pó, poeira
Eu danço com você o que você dançar

Se você deixar o sol bater nos seus cabelos verdes

Sol, sereno, ouro e prata
Sai e vem comigo
Sol, semente, madrugada
Eu vivo em qualquer parte do seu coração

Se você deixar o coração bater sem medo

Se você quiser eu danço com você
Meu nome é nuvem, pó, poeira, movimento
O meu nome é nuvem
Ventania, flor de vento, madrugada
Eu danço com você o que você dançar

Se você deixar o coração bater sem medo." (Lô Borges)


Ela - meu Sol Girassol
Assistiu à primavera concebida pelas intrínsecas sementes dos meus óvulos suados de luz.
A criança parida enxergou-a como madrinha, segurou suas mãos maduras e permitiu que acompanhasse a dança, abraçada com o seu coração.





                                        
                              

domingo, 3 de janeiro de 2010

O Parto


Na febre da dança, deu-se à luz o estado da alma.
A primavera interior deu o seu primeiro choro de vida:
- Hei de querer ser eterna!
Restou-me concedê-la.
Existe uma dimensão das coisas dentro de mim, sobretudo da beleza, que se recusa a morrer. Só eu a encontro. Não cabe a absolutamente ninguém censurá-la. Prefiro ser fiel a mim mesma. Não faço questão de ser normal.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Primavera Interior


Com os olhos úmidos de amor, repouso todos os dias diante do mar interior que grita:
- Vida!
O lapidar da alma se faz profundamente, como um castelo de areia sendo construído, grão em grão, embaixo d'água. Nesse castelo, o canto de guerra é o sentimento - o sentimento nu, completamente despido, sem nenhuma influência, tal como uma criança recém-nascida. Às vezes, prefiro não nomeá-lo por medo de que o nome o transforme, roube sua identidade. Nessas ocasiões, prefiro deixá-lo sem registro, totalmente cru. É o meu melhor alimento. Respeito o seu fluxo sem contrariá-lo. Assim, revelam-se os caminhos naturais para cada estação da alma. Sinto-me rica por carregar, humildemente, o peso do sentimento que se faz plural, equivalente a um mar. Aprendo a conviver com o seu curso.
Esse mar, ao mesmo tempo é de flores - gaguejadas - transpiradas e colhidas antes do sol ir embora.
Brindo, com sabedoria, a chegada da minha primeira primavera interior.