sábado, 16 de janeiro de 2010

A menina e o pássaro encantado

"Era uma vez uma menina que amava um pássaro encantado que sempre a visitava e lhe contava estórias, o pássaro a fazia imensamente feliz. Mas sempre chegava um momento quando o pássaro dizia: "Tenho de ir". A menina chorava porque amava o pássaro e não queria que ele partisse. "Menina", disse-lhe o pássaro, "aprenda o que vou lhe ensinar: eu só sou encantado por causa da ausência. É na ausência que a saudade vive. E a saudade é um perfume que torna encantados a todos os que o sentem. Quem tem saudades está amando. Tenho de partir para que a saudade exista e para que eu continue a amá-la, e você continue a me amar..." E partia. A menina, sofrendo a dor da saudade, maquinou um plano: quando o pássaro voltou e lhe contou estórias e foi dormir, ela o prendeu numa gaiola de prata dizendo: "Agora ele será meu para sempre". Mas não foi isso que aconteceu. O pássaro, sem poder voar, perdeu as cores, perdeu o brilho, perdeu a alegria, não mais tinha estórias para contar. E o amor acabou. Levou tempo para que a menina percebesse que ela não amava aquele pássaro engaiolado. O pássaro que ela amava era o pássaro que voava livre e voltava quando queria. E ela soltou o pássaro que voou para longe.” (Rubem Alves)

E voa até hoje.. percorrendo a essência da menina.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2010


"Se você quiser eu danço com você no pó da estrada
Pó, poeira, ventania
Se você soltar o pé na estrada, pó, poeira
Eu danço com você o que você dançar

Se você deixar o sol bater nos seus cabelos verdes

Sol, sereno, ouro e prata
Sai e vem comigo
Sol, semente, madrugada
Eu vivo em qualquer parte do seu coração

Se você deixar o coração bater sem medo

Se você quiser eu danço com você
Meu nome é nuvem, pó, poeira, movimento
O meu nome é nuvem
Ventania, flor de vento, madrugada
Eu danço com você o que você dançar

Se você deixar o coração bater sem medo." (Lô Borges)


Ela - meu Sol Girassol
Assistiu à primavera concebida pelas intrínsecas sementes dos meus óvulos suados de luz.
A criança parida enxergou-a como madrinha, segurou suas mãos maduras e permitiu que acompanhasse a dança, abraçada com o seu coração.





                                        
                              

domingo, 3 de janeiro de 2010

O Parto


Na febre da dança, deu-se à luz o estado da alma.
A primavera interior deu o seu primeiro choro de vida:
- Hei de querer ser eterna!
Restou-me concedê-la.
Existe uma dimensão das coisas dentro de mim, sobretudo da beleza, que se recusa a morrer. Só eu a encontro. Não cabe a absolutamente ninguém censurá-la. Prefiro ser fiel a mim mesma. Não faço questão de ser normal.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Primavera Interior


Com os olhos úmidos de amor, repouso todos os dias diante do mar interior que grita:
- Vida!
O lapidar da alma se faz profundamente, como um castelo de areia sendo construído, grão em grão, embaixo d'água. Nesse castelo, o canto de guerra é o sentimento - o sentimento nu, completamente despido, sem nenhuma influência, tal como uma criança recém-nascida. Às vezes, prefiro não nomeá-lo por medo de que o nome o transforme, roube sua identidade. Nessas ocasiões, prefiro deixá-lo sem registro, totalmente cru. É o meu melhor alimento. Respeito o seu fluxo sem contrariá-lo. Assim, revelam-se os caminhos naturais para cada estação da alma. Sinto-me rica por carregar, humildemente, o peso do sentimento que se faz plural, equivalente a um mar. Aprendo a conviver com o seu curso.
Esse mar, ao mesmo tempo é de flores - gaguejadas - transpiradas e colhidas antes do sol ir embora.
Brindo, com sabedoria, a chegada da minha primeira primavera interior.