sábado, 17 de abril de 2010

Enfrento, sem nenhuma outra ajuda, além da própria cabeça e do coração, o vazio - tão jovem - deixado pelo poeta que me levou nos braços, por tantas noites, ao encontro do verso que esperava para adormecer comigo. Ensinou-me o poeta, que eu poderia recriar o universo segundo uma nova dimensão, na qual seria necessário pintar-me de ousadia para, só assim, dar vida aos meus sonhos e convicções e fazer da sensibilidade o ponto máximo do meu projeto de vida.
O homem das cores sábias deixou de ser palpável. É energia que, derramada sobre mim, transborda.
Eu bebi as cores do meu pai e trouxe comigo. Elas, que compõem o cenário da minha alma.
O cenário das mais fortes emoções, que gritam detrás das cortinas vermelhas que se abrem a cada espetáculo de sentimentos. Eles esperam ser aplaudidos de pé.
Quero ver uma plateia de bichos homens, entre eles, o mais humano, que irá explorar a densa selva de cores. O que baterá a última palma, ao fim do espetáculo, e permanecerá no mesmo local, inconformado com o fechar das cortinas, esperando a hora da revelação - quando os sentimentos sairão daquele palco nus e crus, cansados, sem maquiagem, completamente desbotados, e serão convidados a passar a noite sob os cuidados da lua. Quero que bichos se cheguem com mansidão ao bicho manso, doce e meramente humano que eu tanto procuro ser. Quero, como uma selvagem em busca de abrigo no meio da tempestade, o único dia em que me encontrarão. Tão livre, e sozinha na natureza. Na mais pura e antiga condição humana, nua da cabeça aos pés.
O dia em que ousarão vestir-me, alma impregnada de choro, regida de fogo e arte.

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